CAPÍTULO UM

 

O Sistema de Sucessão por Discípulos

 

 

No "Bhagavad-Gita", Sri Krishna estabelece o conceito de sucessão por discípulos, ou seja, de Parampara. Na verdade, o segundo verso do capítulo quatro é um verso-chave para a compreensão de todo o conhecimento Védico, e não apenas da astrologia.

 

Evam Param Para Praptam

Imam Rajarshayo Vidu

Sa Kaleneha Mahata

Yoga Nashta Paramtapa

 

"Esta ciência suprema foi assim recebida através da cadeia de sucessão por discípulos, e os reis santos a compreenderam desta forma. Mas ao longo do tempo a sucessão foi quebrada, e agora aquela ciência, como se vê, parece estar perdida."

 

Através destas palavras, o Senhor Krishna indica que se devia compreender o conhecimento védico pela sucessão por discípulos, isto é, pelos sábios védicos. Por que? Porque o conhecimento que "desce" em sucessão por discípulos pelos sábios puros, que mantinham contato com a Super-Alma, tem sua origem numa fonte divina e é livre dos defeitos da percepção sensorial mundana.

 

E quais são estes defeitos? De acordo com o Jiva Goswami, estes defeitos são de quatro tipos básicos: "como brahma ou erro devido à percepção incorreta de um objeto pelo outro, pramada ou erro devido a negligencia, Vipralipsa ou erro devido a propensão de engano e karanapatava ou erro devido a incapacidade dos sentidos. Assim, ele aceita apenas shabda (evidencia oral da sucessão por discípulos) e nenhuma outra evidencia; o resto, ele trata como puramente complementares". Shabda Brahman significa a vibração do som transcendental tal como é encontrada nos Vedas.

 

Neste ponto, vamos definir os ensinamentos da astrologia védica. Estamos basicamente falando de Parashara Muni. Ele nos legou um sistema completo de astrologia no seu tratado "Brihat Parashara Hora Shastra". Ele não disse que era incompleto nem uma "parcela". E embora ele tenha passado seus ensinamentos a Maitreya, ele tinha em mente o homem atual, desta era, a Kali-Yuga. Isto é evidente nas seções que tratam do Ashtakavarga e do período planetário Vimshottari. Embora existam algumas fontes védicas menos extensas, tais como os ensinamentos de Satyacharya, quase toda a astrologia hindu corresponde ao sistema Parashara e é, por isso, conhecida como astrologia (de) Parashara.

 

Mas, em primeiro lugar, quem foi Parashara? Existe uma bela narrativa no "Hari Bhakti Shudhodaya" (uma seção do "Naradiya Purana") que ilustra o quanto Parashara Muni era iluminado. Aparentemente, o sábio Markendeya compareceu a uma reunião de sábios na floresta, sentados em circulo e tendo entre eles Parashara, que era apenas um garotinho de sete anos naquela época. Ele estava sentado no colo do sábio Vasishtha Muni, que era o sacerdote familiar de Sri Ramachandra, um avatar do Senhor Vishnu. Estar sentado no colo de Vasishtha era, por si só, uma honra. Mas, seguindo com a estória, Markandeya se prostrou aos pés de Vasishtha respeitosamente. Parashara devolveu-lhe o cumprimento, prostrando-se aos pés de Markandeya. Este desaprovou o ato do menino, dizendo-lhe que os anciãos deviam receber os respeitos e não se ajoelhar aos pés dos outros de menos idade. Parashara se mostrou surpreso e disse que, já que ele tinha apenas sete anos, ele não era um ancião. E por esta razão não deveria haver objeção a que ele se ajoelhasse. Entretanto, Markandeya citou sábios que definiam a idade como o tempo passado na lembrança de Vishnu. E continuou mencionando que a devoção de Parashara era insuperável e que o menino estava em contato com a Super-Alma. E a seguir, Markandeya disse que, embora apenas um menino de sete anos, o tempo que todos os outros presentes tivessem se lembrado do Senhor Vishnu, se somado e comparado com a idade de Parashara, não ultrapassaria 5 anos. Foi por isso que Markandeya considerou Parashara como a pessoa mais idosa da assembléia.

 

Encontramos outra anedota muito antiga, acerca de Sri Ramanuja Acharya, um dos maiores santos dentre os devotos do Senhor Vishnu no sul da Índia, na era pós-védica. Está lindamente relatada em "A Vida de Ramanuja Acharya", compilado por Naimisharanya Das, de onde tiramos: logo antes da cremação de Alabandara (Yamunacharya), um santo de estatura praticamente igual á sua, Sri Ramanuja, chegou para participar. Ele notou que o santo tinha os três dedos do meio fechados, enquanto o primeiro e o quinto estavam estendidos. Depois de um momento, Ramanuja disse: "Vejo que os três dedos de Alabandara estão fechados com força. Ele os mantinha assim em vida?"

 

Os discípulos que estavam por perto responderam: "Não, ele mantinha os dedos retos. Não sabemos por que eles estão assim, agora".

 

Ramanuja, então, declarou bem alto: "Fixo na devoção ao Senhor Vishnu, libertarei as pessoas da ilusão, espalhando as glorias do Senhor por toda a Terra". Ao serem ditas estas palavras, um dos dedos se endireitou.

 

Ramanuja falou de novo, dizendo: "Para estabelecer que não existe verdade além do Senhor Vishnu, escreverei os comentários do Sri Bhashya sobre o Vedantasutra". E o segundo dedo se desdobrou, endireitando-se.

 

E Ramanuja declarou novamente: "A fim de prestar meus respeitos ao sábio Parashara, que tão maravilhosamente descreveu as glorias do Senhor no Vishnu Purana, darei a um estudioso Vaishnava o seu nome". Com estas palavras finais, o ultimo dos dedos de Sri Alabandara se endireitou. Esta estória, que menciona os três votos do Sri Ramanuja, e parte do panteão dos devotos de Vishnu do sul da Índia, o ultimo voto enfatizando o status privilegiado do sábio Parashara.

 

Destas estórias, podemos concluir que Parashara Muni é, certamente, uma personalidade exaltada e um médium puro do conhecimento astrológico. Seus ensinamentos não se deixariam manchar com qualquer um dos já mencionados defeitos empíricos. Tenha em mente que ele também foi o pai do sábio Vyasadev, o mesmo que compilou os próprios Vedas!

 

No que diz respeito às fontes de Parashara, ele afirma em diversos lugares do seu tratado que "fui instruído por Brahma..." ou que "isso e aquilo vim a saber através de Narada". Sabemos, pelo "Bhagavat Purana" (canto dois, capítulo nove) e outras fontes semelhantes, que Brahma é o "Adi-Devo Jagatam", ou o primeiro semideus do universo e "Para Guru", ou guru supremo (verso cinco). Ele praticou a yoga com tanto sucesso que Deus, a Suprema Pessoa, Narayana, desceu do céu espiritual (Vaikuntha), apareceu a sua frente, apertou sua mão, sorriu para ele e o chamou de "impregnado pelos Vedas". Portanto, Brahma pode ser considerado uma fonte perfeita de conhecimento, já que ele tem a recomendação de Narayana, apertou Sua mão e O viu pessoalmente! Narada é filho de Brahma.

 

Isso significa que os ensinamentos astrológicos que desceram de Brahma e Narada para Parashara são livres de defeitos sensoriais mundanos. E aprender de tais sábios é a perfeição do verso-chave acima mencionado.

 

Por outro lado, mesmo que se procurem evidências empíricas, não se perde a segurança. Desde o termino da idade Védica, milhares de anos atrás, alguns dos maiores intelectos da Índia se dedicaram a este sistema de astrologia. Foram patrocinados por grandes reis e homens ricos e tiveram amplas facilidades de aceitação. Suas descobertas e o entendimento do sistema de Parashara foram documentados em grandes livros, tais como o "Brihat Jataka", de Varaha Mihir, e o "Jataka Parijata", de Vaidyanath Dikshita. Não faltaram experiências com o sistema. Assim, parece que, na astrologia védica, não temos um sistema empírico sujeito às imperfeições humanas. Em vez disso, temos um sistema livre destas imperfeições, embora empregado por seres humanos frágeis.

 

 

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e-mail do autor: Dean Dominic De Lucia