CAPÍTULO DOIS

 

Se Não Está Quebrado, Não Mexa

 

 

Dado que a astrologia védica provém da cadeia de sucessão por discípulos, dever-se-ia então compreender, portanto, que foi a sucessão por discípulos dos sábios que a apresentou. De acordo com o verso-chave, era assim que os reis santos compreendiam o conhecimento transcendental, que dirá nós! No 34°- sloka do capítulo quatro do "Bhagavad-Gita", Sri Krishna também adverte que a "Pariprashneya Sevaya", ou uma atitude de questionamento humilde e serviço devocional, deveria ser levada em frente. Esta é a forma de se receber o conhecimento védico, seja astrológico ou de qualquer outro teor, de acordo com Sri Krishna, a quem Arjuna considerava infalível (Achutya).

 

No Ocidente, é claro, o normal é se desafiar, especialmente dentro dos círculos acadêmicos. É considerado ideal ser original e descobrir algo novo, ou até mesmo desaprovar seu antecessor. Assim, a pessoa estaria estabelecendo seu próprio nome. Na verdade, esta é uma boa forma de comportamento, se o objetivo for o desenvolvimento de nova tecnologia, novas indústrias ou a autoprojeção através de oceanos e continentes. (Quem teria ouvido falar de Cristóvão Colombo, se ele não fosse original?) Entretanto, não é uma boa prática em se tratando da compreensão de conhecimento védico pela sucessão por discípulos, conforme indicado no "Bhagavad-Gita".

 

A abordagem especulativa e experimental, se for aplicada à astrologia Parashara, seria o equivalente a se tentar consertar algo que não está quebrado e mexer com uma filosofia já tão refinada! É bastante documentado e muito sabido que a astrologia védica é muito precisa com respeito ao tempo em que os fatos mundanos eclodem. Em termos de análise de personalidade, também, a astrologia védica oferece uma perspectiva instintiva e anímica do Surya Lagna (mapa Solar), uma perspectiva emocional do Chandra Lagna (mapa Lunar) e um ponto de vista mais genérico do próprio Ascendente, ou Lagna. Na realidade é muito mais abrangente do que o sistema ocidental e repleta de técnicas e métodos de analise desconhecidos das outras escolas (como, por exemplo, os períodos planetários e os métodos de indicação da força dos planetas). Então, por que não aceitar este sistema maravilhoso de astrologia, uma vez que ele foi colocado nas nossas mãos já pronto, em vez de especularmos com nossos sentidos imperfeitos?

 

E não é razoável pensarmos que o sistema ocidental e o Parashara se complementam um ao outro. São sistemas diversos, com uma lógica diferente por trás de cada um, e um conjunto de regras de interpretação diferente; eles não nos levam ao mesmo lugar, por estradas diferentes. Seria muito mais preciso dizer que se excluem mutuamente. Talvez seja isso o que Jiva Goswami quer dizer com "Vipralipsa", é bem possível que nós nos enganemos sem sequer saber que nos estamos enganando.

 

Portanto, enquanto estudamos a astrologia védica, lembremonos do verso-chave do "Gita" e tentemos compreender as palavras dos acharyas (mestres) antigos. Como inspiração final, meditaremos nas palavras de Arjuna que estão no sétimo verso do "Gita", capítulo dois:

Sishyas to ham shadi mam tvam prapanam

"Agora sou um discípulo Teu e uma alma que se rende a Ti. Por favor, instrua-me ".

 

 

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