A Terra Oca e os Puranas

                          Os Puranas fazem vários comentários em relação ao fato de a Terra ser oca que não deveriam ser considerados levianos. Ainda que sejam superficiais, deve-se reconhecer seu impacto. Um desses comentários sobre o avatar Kalki afirma que, no final da era de Kali, Kalki nascerá na melhor de todas as famílias brâmanes da cidade de Shambala e que aniquilará os seres humanos degradados que restarem na superfície do planeta.  Em seguida, a versão geral dos Puranas continua dizendo que os seres humanos subirão à superfície do planeta para recolonizá-lo e reiniciar a cultura védica. Vale notar que os Puranas mencionam Shambala como sendo uma cidade localizada no interior do planeta.  Shambala não é considerada uma cidade do interior da Terra só nos Puranas, mas também na memória coletiva do Tibet.

                          Outra narrativa dos Puranas que comenta diretamente sobre a porção oca da Terra se relaciona ao avatar Parasurama, e se encontra no Nono Canto, Capítulo 16, Textos 19 - 21, do Bhagavatam. O 19º texto diz que Ele entrou em confronto com a casta dos guerreiros 21 vezes e livrou a superfície da Terra  de todos eles. A palavra usada para indicar a face da Terra foi Prithivim.

                         Em seguida, o texto explica que Parasurama distribuiu os oito pontos cardeais para certos rishis. Isso só tem sentido na medida em que Ele parecia estar desgostoso com a casta dos guerreiros. É claro que, por serem membros da casta sacerdotal, os rishis são diferentes dos guerreiros, sendo tolerantes, intelectuais, praticantes da bondade, etc..

                         Depois de mencionar os oito pontos cardeais e os rishis que obtiveram domínio sobre essas regiões, encontramos menção a  "madhyayatah", ou seja, a região do meio (interior); o Bhagavat Purana diz que a região do meio foi distribuída a Kashyapa Rishi. Assim, adotando uma narração descritiva, e depois de mencionar a superfície ou a “face” do mundo, o Bhagavat Purana segue praticamente num só fôlego mencionando a porção do meio da Terra.

                          Tanto a terminologia usada como o roteiro da narrativa  a respeito do avatar Parasurama favorece diretamente a Teoria da Terra  Oca.

                        Os Puranas contam ainda outra história famosa que menciona abertamente a porção oca da Terra. Trata-se da história dos filhos de Maharaj Sagara.  Indra havia roubado o cavalo destinado ao sacrifício ashvamedha (um tipo de sacrifício de fogo). Segundo a história, seus filhos saíram em busca do cavalo e chegaram a um oceano ao Norte pelo qual navegaram até adentrar as “entranhas” da Terra.  Lá dentro, no eremitério de Kapila Rishi, eles acabaram encontrando o cavalo. Ainda que o rishi tivesse jurado que não roubara o cavalo, os filhos de Sagara o maltrataram. O que podemos concluir desta história?

                        Bem, primeiro podemos concluir que os filhos de Maharaj Sagara eram um bando verdadeiramente rude por terem maltratado o rishi! Entretanto, observando mais seriamente, percebe-se a correspondência existente com as indicações a respeito da existência de aberturas próximas das áreas polares do nosso planeta obtidas pelos investigadores da Terra oca (sendo que estes suportam suas alegações com várias evidências). Isso explicaria ter de se atravessar um oceano ao Norte para entrar no interior do planeta.

                 cutaway2,he.gif                                                                                                                                      Bhagavat Purana não se detém em descrições muito detalhadas como ocorre com outros Puranas; o Bhagavat apenas afirma que os filhos de Sagara seguiram no rumo nordeste. Mas mesmo esta afirmativa parece confirmar a localização da abertura  segundo os investigadores da Terra  oca, que a situam a Norte e  Leste da península russa de Severnaya Zemlya. É interessante notar que para atingir esta região a partir da Índia a pessoa teria de viajar no rumo Nordeste!

                         Há outro ponto digno de menção que podemos garimpar nesta narrativa: a cultura védica floresceu na Terra oca a tal ponto que o próprio Kapila Rishi chegou a manter seu eremitério por lá. Isso vem de encontro às descrições apresentadas por Olaf Jansen, o jovem norueguês que revelou ter passado pela abertura navegando com o pai no veleiro dele.  Olaf descreveu ter encontrado uma sociedade humana que mostra correspondência com as descrições dos Puranas de antes do início da Kali Yuga. Ele descreveu seres humanos com cerca de 4 a 5 metros de altura que viviam por aproximadamente 1.000 anos, tinham memória fotográfica, falavam sânscrito e adoravam o sol interior.

                          Contudo, surge aqui uma pergunta óbvia: por que então os Puranas não falam diretamente a respeito da Terra oca?

                        Lembremos que estes Puranas foram escritos no limiar de duas yugas, antes que o esquecimento e a ignorância característicos da Kali Yuga começassem a se manifestar. Talvez essa seja a razão porque os Puranas falam da Terra oca como se assumissem que as pessoas naturalmente compreendem o assunto, e, portanto, não oferecem nenhuma explicação especial a esse respeito. Do mesmo modo, se um escritor tivesse que contar a história da batalha decisiva da Revolução Americana, ele poderia explicar que os franceses bloquearam o recuo dos Ingleses por mar; e assim o escritor provavelmente seguiria com a história. Ele assumiria que os leitores sabem quem são os franceses, que eles vieram do outro lado do Atlântico, e que o oceano existe de verdade.  O escritor obviamente nem pensaria em explicar e substanciar a existência dos franceses ou do oceano no decorrer de sua narrativa da Revolução Americana. Parece que, do mesmo modo, os Puranas simplesmente mencionam as “entranhas” da Terra  e o eremitério de Kapila Rishi por lá, durante a narrativa, sem oferecer maiores explicações a respeito do assunto.

A evidência dos Puranas é de grande interesse para os adeptos da Teoria da Terra Oca; constitui-se num marco adicional ao corpo de evidências sobre a Terra oca. É interessante observar que as lendas tibetanas a respeito da Terra oca foram popularizadas entre os proponentes da teoria há já muito tempo, até mesmo culminando, na década de 30, na produção de um filme de longa metragem intitulado “Shangri La”, o qual foi refilmado nos anos 70. Talvez isso tenha acontecido devido ao impacto do livro “Shambala” escrito por Nicholas Roerich e publicado em 1930. Ele esteve no Tibet e relatou em seu livro o rico folclore relacionado à Terra oca, mencionando as cidades de Shambala, Shangri La, e o reino de Agharta. É muito provável que as lendas tibetanas sobre a Terra oca tenham se conservado melhor devido aos túneis que, segundo consta, ligam Agharta ao Tibet – é possível que seja por isso que os tibetanos tenham ficado sob a influência da Terra oca por um período de tempo mais longo.

                          O conteúdo dos Puranas a respeito da Terra oca não tem sido muito reconhecido no ocidente, uma vez que nós sempre experimentamos os Puranas filtrados por indologistas ocidentalizados, que, ao empreenderem seus estudos das literaturas védicas, conheciam muito pouco a respeito do folclore da Terra oca, e sequer procuravam pistas a respeito da verdadeira configuração geológica de nosso planeta.

                          Esses comentários a respeito da Terra oca devem ter passado desapercebidos para eles, como aconteceu com vários outros comentários que encontramos na literatura védica.  Quando os ingleses começaram a estudar a literatura védica depois de sua invasão da Índia há 200 anos, notaram a existência de  textos descrevendo naves voadoras (vimanas), flechas e discos capazes de perseguir alvos em fuga, armas ativadas por mântras, e ainda a respeito de seres de outros planetas com inacreditável longevidade e identificados como sendo os progenitores da humanidade. É claro que os ingleses naturalmente descartaram esses comentários, considerando que estavam diante de mera história da carochinha. Mas vemos que hoje em dia algumas desses mecanismos viraram realidade; testemunhamos o aparecimento da aviação, de mísseis teleguiados e de armas ativadas por voz.  Por conseguinte, há razão para  revermos as narrativas dos Puranas usando agora uma lente grande angular – e isso não apenas em relação aos comentários a respeito da Terra oca, mas em geral, ainda que os comentários a respeito das entranhas da Terra, do eremitério de Kapila Rishi, de Shambala e outros certamente mereçam um enfoque especial.

Dean Dominic De Lucia

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