CAPÍTULO CINCO

 

Intuição e Sadhana

 

(Prática Religiosa)

 

 

A intuição é importante para um astrólogo, mas ela deve ser adequadamente compreendida. Podemos definir a intuição como uma orientação sutil vinda do interior, da Super-Alma. No capitulo 15, texto 7 do "Bhagavad-Gita", Sri Krishna nos dá uma idéia de como funciona a intuição:

 

Sarvasya caham hridi sanivisto Mattah smritir jnanam apohanam ca

 

"Estou sentado no coração de todos os seres vivos, e de Mim vêm a recordação, o conhecimento e o esquecimento."

 

É por esta razão que muitos textos antigos estipulam que o astrólogo seja uma pessoa religiosa de hábitos limpos, e que pratique algum tipo de sadhana ou exercício purificador, tal como a oração, cuja prática ajudará o astrólogo a se tomar receptivo às instruções vindas da Super-Alma. Na verdade, dado o contexto da cultura védica, devia-se compreender que um astrólogo era um brâmane em primeiro lugar, um sacerdote religioso. Alguns textos são mais explícitos e estipulam um determinado comportamento ou estilo de vida para um astrólogo, por exemplo, o "Prashna Marg". Seu autor afirma: "Esta pessoa, que domina esta ciência, que tem bom conhecimento de matemática, que leva uma vida religiosa, que é sincero, livre de preconceitos e bem versado nos Vedas, mantras e tantras, somente ele poderá ser chamado de vidente... Quando até os mlechas e yavanas (castas dos intocáveis), bons conhecedores de astrologia, são tidos como iguais aos sábios, quem negaria respeito a um astrólogo que é um brâmane?". (Textos 15 e 14, respectivamente, tradução do Dr. B.V Raman.)

 

Há um problema, porém, quando um astrólogo imagina que seus pressentimentos sejam as sugestões inspiradas pela Super-Alma, ou que algum tipo de intuição divina esteja sendo canalizada através dele. Mesmo que o astrólogo tente ver a mão que guia da Super-Alma em tudo, na verdade, não é possível que ele a perceba até que se torne completamente puro. Mais uma vez, Sri Krishna joga um pouco de luz sobre este enigma no capítulo sete, texto sete do "Bhagavad-Gita", onde se lê:

 

Jitatmanah prashantasya Paramatma samahitaha Shitoshna-suka-dukeshhu Tatha manapamanayoh

 

"Para aquele que conquistou a mente, a Super-Alma já foi alcançada e ele atingiu a tranqüilidade. Para este homem, felicidade e tristeza, calor e frio, honra e desonra, tudo é a mesma coisa."

 

Noutras palavras, se o astrólogo estivesse num degrau onde "o calor e o frio, a honra e a desonra fossem a mesma coisa", então ele certamente estaria em contato com a Super-Alma. Um astrólogo tão elevado poderia confiar diretamente nas suas intuições e sentimentos como divinamente inspirados. Até que este estágio seja alcançado, é artificial para um astrólogo pensar que ele foi inspirado pela Super-Alma para predizer tal e tal coisa, ou que o universo se comunica através dele.

 

A idéia é que o astrólogo tente levar uma vida limpa sem distrações demais, e que também tente se tornar receptivo a Super-Alma, através de algum tipo de prática espiritual. Mas, então, ele precisa compreender que uma tal orientação vira de forma muito sutil. Por exemplo, sua atenção pode ser dirigida para uma certa combinação planetária, durante uma interpretação, ou certas conclusões podem aflorar naturalmente na sua cabeça. Mas a vontade do astrólogo começa a ultrapassar seus limites, se ele tentar reconhecer a mão da Super-Alma de alguma forma exterior. Provavelmente, ele ainda não se encontra neste degrau de pureza, como a grande maioria de nós. Até que ele se torne extremamente puro, os tropeços das racionalizações e das justificativas sempre estarão presentes. Uma boa maneira para um astrólogo verificar sua intuição e assegurar-se de que seus sentimentos correspondem a uma interpretação do mapa de forma lógica e objetiva. Somente então o astrólogo poderá estar certo de que a interpretação está isenta de sentimentalismo e fantasias.

 

 

 

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